Ponto de partida

O que uma desilusão amorosa não faz com uma pessoa. Definitivamente, todo mundo deveria ter uma desilusão amorosa daquelas bem avassaladoras pelo menos uma vez na vida. Só assim é que podemos perceber o quanto ainda temos a melhorar como pesoas para merecer o amor de uma pessoa.

A desilusão amorosa, na verdade, deve ser encarada como um ótimo ponto de partida. O ponto a partir do qual nos tornaremos pessoas melhores para o mundo e para nós mesmos. Pelo menos foi assim que aconteceu comigo e minha primeira (e avassaladora) desilusão amorosa. Ela era alguém que considero até hoje "Intelectualmente Superior" e eu, alguém um pobre mancebo pretencioso que não fazia nada mais interessante que converter oxigênio em gás carbônico ivoluntariamente. Era areia de uma praia inteira pro meu pobre carrinho de mão.

Nunca fui de considerar a beleza um fator determinante -- mesmo porque, no meu caso, havia uma incompatibilidade crucial que me deixava em desvantagem aos outros espécimes do sexo masculino: eu não sou o que se pode chamar de "bonito". Ela não era tão bela como nos poemas românticos, mas a sua inteligência e conhecimento a respeito de assuntos que considerava importantes, era de saltar aos olhos. Me apaixonei logo de cara. Não tinha escapatória.

Livros, revistas, televisão, cd's, conversas intermináveis não eram suficiente. Por anos tentei fazer com que aquilo me tornasse um cara melhor. Mas a cada conversa que tínhamos, me sentia cada vez mais medíocre. Foi aí que acabei, meio que sem querer, desistindo de ser aquele cara "intelectualmente superior" pra poder tê-la pra mim. Desisti de tudo e fui curtir a vida do meu jeito. Deu certo!

Pena que nunca pude provar daquele beijo que tanto quis. Nunca se sabe o dia de amanhã.
Este foi o meu ponto de partida. C'est la vie. Algumas pessoas evoluem por causa disso, outras não.

Agora vejo um grande amigo meu passando por tudo que eu passei. Vamo ver no que vai dar. Espero que ele evolua.

* Portrait De Femme. Augosto, 1937. Pablo Picasso 1881-1973