quarta-feira, outubro 05, 2005

Eu contra eu. Vencedor: eu!

Uma vez um professor de literatura que eu tinha disse que o Fernando Pessoa (se não me engano) escrevia cartas pra ele mesmo e as enviava. As tais cartas eram lidas com uma empolgação inexplicável. Depois de um tempo enviando e recebendo cartas para si mesmo o Fernando Pessoa deve ter enchido o saco que parou de escrevê-las. Até que o inacreditável aconteceu: ele ficou deprimido porque não recebia mais cartas de si mesmo e voltou a escrevê-las. Dá pra acreditar?

Tentei fazer isso, mas foi de um jeito um pouco diferente. Mandei um cartão com data marcada pra receber somente no ano seguinte. Foi algo simples, porém, a sensação de entrar em contato consigo mesmo é muito bacana. Acho que essas devia ser a motivação do Fernando Pessoa em escrever tantas cartas para si mesmo. É como se o "eu do passado" falasse com o "eu de agora".

"Oi 'eu de agora'! Aqui é o seu 'eu do passado'. Como você anda? Ainda tá naquele emprego que você odeia ou já encontrou outra coisa melhor? Eu cá estou naquele emprego que odeio, mas tô querendo arrumar alguma coisa melhor pra fazer. Espero que você aí esteja melhor do que eu aqui. Boa Sorte! Afinal de contas, o que é bom pra você é bom pra mim também."

O engraçado é que, quando recebi o cartão, já não estava no tal emprego que odiava e estava trabalhando em um lugar bem melhor e mais tranqüilo. O meu "eu de agora" estava bem melhor do que o meu "eu do passado". Pelo menos estava em um emprego melhor - o que já é um bom começo.

Há uns anos atrás um grupo de pessoas fez a mesma coisa. Foi até matéria do Fantástico (É FANTÁSTICO! TCHÃ!!!) Eles foram acampar e fizeram um pacto: escrever uma carta para si mesmo e voltar àquele mesmo lugar dez anos depois pra ler o que tinham escrito. Alguns já nem lembravam do pacto, mas acabaram voltando ao lugar que haviam acampado dez anos antes. O Fantástico acompanhou o grupo no regresso ao passado. Muita gente, ao ler a própria carta, não agüentou a emoção e chorou.

Enviando uma carta para si mesmo no futuro você acaba por imaginar como vai ser e como vai estar daqui há cinco ou dez anos. O reencontro com o passado através de um mecanismo aparentemente tão simples mostra como vamos mudando no decorrer dos anos: as vitórias, as derrotas, os pais e os filhos, os amigos que vão e vêm, amores, incertezas, convicções... Coisas que vão ficando pra trás sem a gente perceber. Coisas da vida.

Tente fazer isso também. Garanto que o encontro vai ser supreendente.

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