Melhor Sei-Lá-O-Quê do Ano

Depois de meses sem saber o que é ter vida social, arrumei uma boca-livre pra ir e acabei me metendo numa enrascada muito engraçada.

O deveras estressante jornal que eu trabalho ia receber um prêmio concedido a grandes empreendedores nas mais variadas categorias. No nosso caso, a categoria veículo de comunicação. O chefe já havia convocado todo departamento a ir lá prestigiar a entrega do prêmio. Eu só tava interessado na comida e a bebida "de grátis" - aqueles canapés afrescalhados com uns parangolés (que eu nunca sei o que são), torradas com patê de salmão... sem contar as bebidas que vão e vêm em copos que enchem e secam.

Alguns dias antes da entrega do tal prêmio, comentei alguma coisa com o meu irmão. Disse a ele que teria que ir lá na boca livre e tudo mais. Aí ele me veio com uma que achei muito engraçada: "Ih! A gente vai receber esse prêmio também!!!". A loja dele recebeu esse mesmo prêmio ano passado em alguma categoria que não lembro agora. Já que ele teria que ir, achei legal porque não ia ter que suportar a diarréia verbal de alguns colegas de trabalho depois de alguns goles de qualquer coisa.

Então chegou o dia da tal entrega do "Prêmio VIP de Marketing 2006". Liguei pro meu irmão pra saber se ele iria mesmo lá receber o prêmio. E ele: "Pô! Acho que nem vô... Tô cansadão. Tive dois jantares essa semana. Não agüento mais. Vô dormir.". Na hora me ocorreu que já que ele não iria, provavelmente ninguém mais da loja iria. Ou seja, ia sobrar pra mim. Não deu outra. Quando cheguei em casa pra me fantasiar de membro distinto de nossa sociedade, meu irmão jogou a bomba no meu colo. "Vou ligar pro Alexandre e você vai lá me representar". Droga!!!

Chegando no local do evento, parei pra mostrar o convite e verificar se o meu nome conferia com o da lista. Detalhe: meu nome não constava. A sorte que o pessoal do jornal me viu e a moça da recepção me deixou entrar. Quase fui barrado no baile. Beleza! Depois de quase duas horas de espera e de brejas indo e vindo, começou a entrega dos prêmios. O jornal foi logo o primeiro homenageado da noite. Meu ilustre chefe foi lá receber o troféu de "melhor sei-lá-o-quê do ano". Alguns troféus de "melhor sei-lá-o-quê do ano" chegou a minha vez. Justo na hora que eu tava virando o copo o cara chamou o meu nome: "E para receber o prêmio de 'melhor sei-lá-o-quê do ano', convidamos o Sr. César Cardoso da loja NELVIA Informática. Receba os aplausos de nossa platéia".

O caminho da mesa até o palco não era tão longo, mas aquele tapete vermelho tava me deixando nervoso. Tava com medo de escorregar e cair. (já imaginou? com uma queda no meio do salão, meu prêmio automaticamente mudaria da categoria "melhor sei-lá-o-quê do ano" pra "mico do ano"). Legal mesmo foi que, durante a minha caminhada, o dj tocou a introdução de "Satisfaction" dos Stones. Isso eu realmente achei bacana! E depois de receber o prêmio das mãos de um cara que nunca ouvi falar, ainda tive que posar pra fotos estilo "CARAS" fingindo que estava muito à vontade em meio aos holofotes e ao falsh das câmeras de colunistas sociais e seus comentários sobre a festa e fui entrevistado por uma repórter da revista Espaço VIP – também nunca ouvi falar - que perguntou o que o prêmio significava pra loja. Deu vontade de inventar alguma asneira, mas se falo alguma besteira, meu irmão arranca o meu couro. Foi hilário.

Agora que tive meus 15 minutos de fama, posso voltar à minha feliz rotina de ilustre desconhecido.