quarta-feira, novembro 23, 2005

As cinco pessoas que você encontra no céu

Esses dias eu tava assistindo um filme na tv baseado em um livro homônimo chamado "As cinco pessoas que você encontra no céu". (Na verdade não consegui ver o filme todo porque tava com um sono terrível em plena 5 da tarde). Pelo pouco que consegui ver deu pra ter uma idéia do que se passou depois. Essas cinco pessoas te fariam passar por cinco revelações que determinaram o curso de sua vida, ou alguma coisa do tipo. Então fiquei pensando e me perguntando quais seriam as pessoas que eu encontraria no céu (caso para lá eu fosse) se eu morresse hoje. Então selecionei as cinco pessoas (não necessariamente mortas) que de alguma forma contribuíram para que eu fosse o que sou hoje.

1ª Pessoa: Chefe Maurício

O Chefe Maurício é o chefe do grupo de escoteiros que eu participava quando tinha uns 9 anos de idade. Era ele que ensinava todos aqueles conceitos do escotismo que eu carrego comigo até hoje. Ele foi a primeira pessoa que eu conheci que já tinha viajado pra vários países e que outros vários idiomas. Na época era como se o cara tivesse visitado outros planetas de tão distante que essa idéia era pra mim. Mas o que eu achava mais bacana era a coleção imensa de selos e facas de várias culturas que ele tinha. De vez em quando eu lembro da palma escoteira, mas conhecida como "Folha de Chá" e começo a lembrar desse tempo. Ele ensinou outras coisas como: o hino nacional (que quase ninguém sabe todo) e todos aqules nós de marinheiro.

2ª Pessoa: Professor Rui

Ele foi meu professor no segundo semestre da minha 2ª série. Esse ano tinha sido muito conturbado com relação a professores que passaram por aquela turma. Até hoje não sei o porquê de tanta troca de professores em um mesmo ano. Foram quatro no total. Como eu morava em uma cidade de dimensões desprazíveis o professor era conhecido da minha família e, até hoje suspeito que ele queria namorar uma das minhas irmãs. Eu gostava muito dele porque a gente sempre trocava uma idéia no recreio e ele levava uns biscoitos pra comermos enquanto conversávamos. Mas o que me marcou mesmo foi a sua morte. Ele, antes dos trinta anos, morreu de AIDS. Aquela doença era uma coisa tão distante pra mim que quase nem acreditei no que tinha acontecido. Aliás, foi a primeira e única vez que um conhecido meu morreu de AIDS.

3ª Pessoa: Jairo - o noivo da minha irmã

Foi ele quem me ensinou os primeiros passos em matemática. O cara me ensinou a dividir e multiplicar. Apesar de ser meio traumatizado com matemática, foi exatamente ela que determinou o rumo da minha vida em dois momentos cruciais. E, além de noivo da minha irmã, era um amigão. Quando a gente saia pra passear de bicicleta ele só andava voado e eu ficava na garupa me borrando de medo de cair. Era adrenalina pura! Pena que o relacionamento dele com a minha irmã não passou do noivado e a última notícia que eu tive é que ele tinha se casado, virado Metodista e entrou pra polícia militar.

4ª Pessoa: meu melhor amigo Bráulio

Quando eu era garoto, a minha mãe tinha um costume (que eu achava terrível) de me colocar pra dormir depois do almoço e, por causa disso, sair pra brincar só depois das 15:30h. Ás vezes eu conseguia fugir e era pra casa do Bráulio que eu ia. A casa dele ficada de costas pra minha e era só pular o muro, que estaria livre até a minha mãe dar falta e me chamar pro esporro. Eu nem ligava porque a essa altura eu já tava tão cansado e suado que só pensava em água bem gelada (daquelas que dá até uma dorzinha de cabeça se a gente beber rápido). A gente se orgulhava de nunca ter brigado por nada - e eu já tinha brigado com quase todos da minha rua e apanhado da maioria -, e fazíamos questão de dizer que um era o melhor amigo do outro e que ele era mais burro que eu. Na época em que um infeliz inventou de fazer um comercial para incentivar o uso da camisinha dando o nome de "Bráulio" pro próprio pênis, fiquei pensando: "Coitado do Bráulio! Deve estar sendo zuado por Deus e o mundo agora...". Depois que eu mudei de cidade, nunca mais tive notícias dele. Até hoje eu tenho guardado uma foto nossa.

5ª Pessoa: Rogério, meu amigo mudo

O Rogério era bem mais velho que eu e era filho de uma amiga chata que a minha mãe tinha. A gente se dava bem pra caramba porque eu sempre ficava tentando me comunicar com ele. As vezes dava certo e quando não conseguia entender nada, ele escrevia com o dedo no braço pra eu saber o que ele tava querendo dizer. Foi ele quem me encorajou a andar de bicicleta sem as rodinhas. Primeiro ele tirou uma rodinha, depois de um tempo eu mesmo tirei a outra. O cara sempre dava um trato na minha bike, calibrava os pneus, colocava um óleo na corrente, consertava os freios... Era engraçado que, na tentativa de esboçar alguma palavra falada, ele emitia uns sons muito engraçados com a boca. Eu não me agüentava e ria pra caramba e ele não entendia nada. Acho que ele ficava meio puto quando eu ria dele. Depois de grande, ele mudou pra mesma cidade que eu, mas a gente, de grandes amigos, passamos a ser apenas conhecidos. De vez em quando ele aparecia lá em casa, mas eu não tava nem aí - é por essas e outras que eu digo que quando a gente vai ficando adulto, vai ficando babaca.

Se eu morresse hoje, seriam essas as cinco pessoas que eu queria encontrar no céu (se para lá eu fosse). O mais bacana é que além de encontrá-las novamente, eu conheceria o céu delas. Ia ser bem interessante.

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