quinta-feira, dezembro 08, 2005

Os Versos de Salman

É engraçada a sensação que se sente ao chegar perto de um ídolo. Até parece que eles vão se desmanchar se a gente tentar fazer algum contato com eles. Por outro lado, ao chegar perto, dá pra perceber que eles são tão de carne e osso quanto eu e você que está lendo este post.

Ano passado, eu cruzei, na FLIP (Festa Literária Internacional de Parati), com o Salman Hushdie. Esse cara foi jurado de morte pelo Ayatollah Khomeini por ter escrito um livro chamado "Versos Satânicos". O Ayatollah decretou a "Fatwa", que todos os muçulmanos zelosos matassem o escritor e os editores do livro. Nunca cheguei a ler o tal livro, mas só pela coragem de tê-lo escrito já o considerava um cara que merecia respeito. Lembro que, sempre passava no Jornal da Globo alguma matéria falando alguma coisa dele. A iminência da "morte matada" deve ser terrível - já imaginou você andando na rua e, de repente, alguém vem e te dá um tiro? Devem ter sido anos bem difíceis. Alguns anos depois, com a morte do Ayatollah o "Fatwa" foi suspenso e o Salman Hushdie pode voltar a circular livremente por onde quisesse.

Andando pelas ruas do Centro Histórico de Parati ele, nem de longe, lembrava alguém que fora jurado de morte por uma comunidade inteira e eu pouco lembrava o garoto que o via figurando no noticiário, exceto pelo respeito que me motivou a ir vê-lo. Por causa disso, tive de ir lá com o cara tentar (humildemente) trocar uma idéia e até que ele foi bem simpático dizendo que gostava muito do Brasil quando eu perguntei se ele estava gostando da viagem. Devia gostar tanto que optou por fazer o lançamento mundial do seu último livro “Shalimar, o Equilibrista” aqui em terras tupiniquins. Depois dessa o meu lado fã foi mais forte que a minha discrição e eu tive que pedir um autógrafo e bater uma foto com o cara. Não resisti. O foda foi que a foto saiu tremida e eu fiquei com uma cara de bicha mordendo os lábios. Pelo menos deu pra fazer um registro.

Depois desse encontro insólito, ainda o vi mais algumas vezes pela cidade, mas já era fácil perceber que se tratava de alguém que, apesar de ter feito algo extraordinário, era como qualquer um de nós com suas necessidades, desejos, medos e tudo mais que pessoas "não-extraordinárias" têm e deixam de ter.

Em suma, nossos ídolos são tão poeira de estrelas quanto nós.