terça-feira, dezembro 16, 2008

Defina: dança

Muito mais que "bonitinho", Wall-E é, pra mim, um filme que fala muito sobre transformação. Transformação de pensamento, comportamento e vida. Acho que é essa a parte mais interessante: as pequenas transformações que ele vai causando nos personagens ao longo da história. Assim como o robozinho, certas pessoas que passam pela nossa vida, acabam por ocasionar pequenas revoluções. Gestos simples que aparentemente não fazem o menor sentido em um primeiro momento, mas que depois de um tempo nos mostram que a vida é sempre maior que imaginamos e, portanto, sempre nos guarda uma surpresa e nos deixa com aquela sensação de "pqp! como eu não sabia disso!?". Acho que deve ser por isso que não gosto de dormir. A impressão que tenho é que, de alguma maneira estranha, estou perdendo algo importante.

De repente, Wall-e pede passagem para uma moça que estava em sua cadeira e ela, ao ter o seu monitor quebrado, descobre que dentro da nave tem uma piscina. Assim como, mais tarde, ela descobre quantas estrelas pode ver da janela e um mundo novo se abre diante dos seus olhos. Assim como abre a cabeça do comandante que, ao descobrir que o planeta terra é o seu verdadeiro lar e, portanto, algo que vale a pena lutar para ter de volta. Ele descobre também que, assim como todos os habitantes da nave, ele não vivia. Era apenas uma amostra de seres que sobreviveram e seguiram adiante depois de uma catástrofe ambiental ocasionada pelo excesso de lixo. 700 anos não foram suficientes para a limpeza do planeta, mas foram para uma mudança de comportamento. Antes tarde do que mais tarde.

Talvez as pequenas mudanças de comportamento sejam mesmo responsáveis pelas maiores revoluções em nossas vidas. Uma música que ouvimos, a palavra de um amigo, um cara estranho que nos dá um "bom dia" ou nos dá passagem... Esse pequenos "Wall-E's" estão todos aí e raramente no damos conta disso. Isso me lembra que, há um tempo atrás, escrevi aqui sobre quais foram os meus.

Quais formam os seus?

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quinta-feira, dezembro 11, 2008

A Cegueira Branca

Uma prima me falou há uns anos atrás sobre um livro chamado Ensaio Sobre a Cegueira. Na ocasião, lembro que achei ser algo do tipo literal: um ensaio sobre a cegueira num sentido mais amplo. Não era familiarizado com o autor e, portanto, não tinha a menor idéia do que se tratava o tal "ensaio". Ela já fazia faculdade de pedagogia e eu ainda pensava em ser jornalista - coisa que, mais tarde, não me pareceu ser lá boa idéia. Mas o título me chamou atenção. "Esse livro é do José Saramago e fala sobre umas pessoas que ficam cegas de repente...", ela me disse. Fiquei pensando por um tempinho: deve ser muito doido você ficar cego de uma hora pra outra. Sempre morri de medo que um dia isso acontecesse comigo. Ela leu o livro, passou semanas falando dele, mas nunca me emprestou.

Anos depois, me deparei numa Saraiva dessas da vida com a obra completa do Saramago numa prateleira. Tive que comprar o tal "ensaio". Porém, não o li logo. Ainda levei uns bons meses pra começar porque já estava familiarizado com o autor, a sua obra e seu poder devastador na cabeça de quem não está preparado pra ler um livro extremamente denso, de frases longas, um esquema de pontuação complexo e, como diria um amigo meu, com um plus a mais: português de Portugal - por causa disso você acaba lendo o dicionário junto. Levei uns meses nessa leitura, mas valeu a pena apesar de tê-la interrompido em dois momentos pra refletir sobre valores éticos, códigos de postura em situações limite, a fragilidade do caráter humano e a grande ironia por trás disso tudo. Acho que é exatamente aí que repousa toda a densidade do livro: na reflexão que ele gera além do contexto da estória.

Aí veio a ótima adaptação de Fernando Meireles, Blindness, que me fez resgatar toda a emoção passada pelo livro. Um dos melhores filmes que vi este ano e um dos melhores da minha vida. Assim como o Saramago, também fiquei feliz por ter visto o filme assim como estava quando terminei de ler o livro. Voltei pra casa tão pensativo, que até vontade de ler o livro de novo. Quem sabe em um futuro próximo.

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quarta-feira, dezembro 03, 2008

O terror e o pavor

Raramente entro no clima de filmes de terror e fico com medo, tomo sustos e tenho pesadelos depois. Porém, toda regra tem a sua exceção. [REC] é, definitivamente, um dos filmes de terror que mais fiquei com medo. A sensação de pavor que esse filme passa é impressionante. Dá pra ver na reação das pessoas durante a projeção.

O mais engraçado é que, quando você está no cinema com os amigos ou mesmo sozinho, essa sensação se vai depois que as luzes de acendem e se dirige à porta de saída. Você até ri depois de um baita susto. Agora quando você está em casa, sozinho e com o volume no máximo, a sensação de medo dura um pouco mais. É aí que você vê que o filme é realmente bom. Quase não consegui ir ao banheiro depois, de tão apavorado que tava. Pior que eu deve ter ficado o Maurício Saldanha do Cinema com Rapadura que saiu da sala de projeção várias vezes. Esse, sim, tava se borrando de medo.


Houve uma época que só se faziam filmes de exorcismos, coisas demoníacas e guerra entre céu e inferno, depois veio a época dos filmes de terror psicológico vindos do Japão com espíritos que assombram as pessoas por assuntos não resolvidos em vida. Agora estamos na era dos filmes de terror realista onde filmes como A Bruxa de Blair (1999), que inaugurou o gênero, Diário dos Mortos (2007) e Cloverfield (2008).

Já ouvi por aí uns rumores de possíveis continuações de Cloverfield e [REC], que já ganhou uma versão hollywoodiana chamada "Quarentena", para os próximos anos. Espero que sejam boas seqüências, mas esse tipo de projeto, além de extremamente perigoso, todos já sabem o resultado - vide A Bruxa de Blair 2. Uma bomba!

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terça-feira, dezembro 02, 2008

Uma banda estranha da Islândia

Há uns anos atrás, lá pelos idos de 1999, nas minhas noites insones, parei pra ver um clip de uma banda chamada Sigur Rós. Lembro que quem apresentou a banda foi o Gastão Moreira no finado Lado B Mtv. Ele falava dessa tal banda que devia ser o hype da época depois do sucesso que Björk começava a fazer depois de sua saída do Sugarcubes. Já conhecia e gostava muito de algumas músicas dela como Alarm Call e Human Behaviour. Mas o que me chamava a atenção naquela banda nova era, além da melodia de construção paulatina, o idioma. Lembro que achava incrível como aquelas músicas eram bonitas. Eu realmente gostava daquilo que estava ouvindo.

Um tempinho depois, o Fábio Massari lançou o livro Rumo à Estação Islândia. Co
mprei assim que pude porque, afinal de contas, vivia da mesada que a minha mãe me dava que me servia basicamente pra comprar revistas, cds baratos e, de vez em quando um livro. Por causa desse, aliás, fui e voltei à pé pro cursinho por alguns dias. Valeu a pena, pois o livro é muito bom e, como diria o Jurandir Filho do Cinema com Rapadura: é altamente recomendado. Logo depois, ouvi as músicas na trilha sonora do Vanila Sky. Vi esse filme quatro vezes no cinema.

Um pouco mais tarde, resolvi baixar umas músicas deles, pois até então só conhecia o
que havia visto na Mtv pelas madrugadas. Continuei não me decepcionando. Foi incrível. Pouquíssimas vezes tive experiências musicais tão marcantes. A música chamava-se Svefn-g-englar. Lembro que fui tomado e não me contive de emoção e comecei a lagrimar, mas enxuguei rapidamente pra que ninguém visse. Fiquei pensando: cara! como essa música é linda. Não tava entendendo absolutamente nada do que ela dizia, mas achava aquilo tão bonito que queria mostrar pra todo mundo. O problema é que parece que só eu havia gostado daquilo tudo. A maioria das pessoas que eu apresentava a banda achava tudo aquilo absurdamente chato. Foi por essas e outras, aliás, que deixei de apresentar bandas pra outras pessoas: pra não pagar de ridículo.

Uns anos depois ganhei um cd da banda. Foi um dos melhores presentes que já ganhei. Fiquei muito feliz, porém triste porque foram as músicas desse disco que marcaram a minha despedida antes da temporada que passei fora de Belém. Passei meses com o cd jogado no meio dos outros pra que aquelas lembranças da despedida não me fizessem cho
rar de novo. Mas não teve jeito... Um dia, no trabalho, entrei no site da banda e achei uma gama quase infinita de material, até então, inédito pra mim: shows, material gravado ao vivo, entrevistas... Voltei a ouvir as músicas que me emocionavam. Li o livro do Massari pela segunda vez.

Logo depois descobri que uns amigos também gostavam de Sigur Rós assim como eu. Pela primeira vez, pude conversar sobre a banda com outras pessoas sem medo de ser ridicularizado. Enfim achei os meus iguais. E assim foi. Tanto que, com um desses amigos, virou piada interna cantar o trecho de uma das músicas mais famosas ao conquistar a Islândia no tabuleiro de WAR justamente porque um dos que compunham a mesa odiava a banda.

Esses dias, em meio à expectativa criada pela vinda do Radiohead ao Brasil, fui pego de surpresa quando disseram a banda que ia abrir o show dos caras. Leo Madeira dizia que a possível banda seria o Sigur Rós. Apesar de o Radiohead ser, definitivamente, uma das minhas bandas preferidas, fiquei empolgado pra ir quando soube que eles abririam o show.

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