terça-feira, janeiro 31, 2006

Iminência

Ontem, na falta do que fazer, estava lendo um dicionário e pensando no significado de certas palavras e uma em especial me chamou atenção: iminência. O dicionário Aurélio define esta palavra como "algo que ameaça acontecer em breve".

Fiquei pensando, então, em como a iminência de certas coisas nos trazem embutidas uma carga de infinitas experctativas e nos fazem perder horas pensando em "como seria se...", ou em "e quando eu...". Ou talvez a simples reflexão acerca do que um substantivo como este não teria tanto peso se não parássemos pra pensar antes de cometer certos atos. Por causa disso palavra "iminência" talvez alcançasse outro sentido quando se está à beira de um precipício e, ao invés de pensar no quanto seria dolorosa a queda, você simplesmente se jogasse de cabeça sem pensar em absolutamente nada.

Digamos que seja uma palavra que dá sentido a algo que "é sem ser", uma vez que ela representa uma ação que está para acontecer, mas ainda não aconteceu e, portanto, não se trata de um fato consumado em si, mas de um limbo factual entre a ação e a não-ação. Algo que ameaça acontecer não, necessáriamente, irá acontecer. Entendeu? (nem eu...)

Outra coisa me vem à cabeça quando penso nessa palavra: "o segundo que antecede o beijo" (como disse Herbert Viana). O instante, o último segundo, o momento é o espaço exato onde reside a tal iminência. Digamos que seja uma plavra que tem o seu tempo e o seu espaço muito bem definitos em sua totalidade. É uma palavra completa.

Depois dessa viagem toda deixo aqui duas perguntas: que outras palavras palavras teriam um tempo e um espaço embutidas em si mesmas? e que tipo de pergunta é essa?

O que será que andam colocando na minha comida?


segunda-feira, janeiro 30, 2006

Daspu
Sei que esse lance de falar de moda é meio metrosesual, mas em tempos de Bruna Surfistinha e outras prostitutas de luxo que sempre surgem no programa da Luciana Gimenes para nos passar um tanto da sua experiência de vida, não poderia deixar de falar de uma das mais polêmicas grifes de moda feminina dos últimos anos: a DASPU. A grife foi criada pela intelectual, ex-prostituda, uma das fundadoras da ONG Da Vida e autora do livro "Eu, mulher da vida", Gabriela Leite - com um currículo desse na bolsa, dá pra perceber que o buraco é bem mais embaixo (com trocadilho por favor). Ameaçada de processo pela Daslu - que responde a outro processo por irregularidades administrativas e uma das maiores e mais famosas grifes do país-, a Daspu já vendeu mais de mil camisetas com estampas de frases do tipo: "As mulheres boas vão para o céu. As mulheres más vão para qualquer lugar". Já imaginou!?

Estamos diante do mais novo nicho de moda, um novo mercado: a Moda Puta, ou (em uma versão mais pret-à-porter) Bitch Fashion. Quando fiquei sabendo dessa história, logo me veio à cabeça a imagem da Naomi Campbell no São Paulo Fashion Week com uma daquelas mini-saias com o logo da Daspu estampado na bunda baixando pra pegar uma nota de R$ 1 daquelas bem amassadas, tipo dinheiro de bêbado. Hilário!!! Ia ser muito foda (bota mais uma pitada de trocadilho, por favor) ver uma cena dessas.


Gabriela Leite é uma intelectual "de fala articulada de qual fez sociologia na USP" (O GLOBO, 14/01/06) e por causa disso não se pode deixar de pensar que emerge daí um movimento que tem raízes que vêm desde o final dos anos 70 com a Passeata das Prostitutas e vários outros movimentos arquitetados por ela e outras cabeças pensantes que surgem com cada vez mais freqüência das camadas mais populares da nossa sociedade.
A vanguarda do século XXI é da favela.


Vai lá também: www.daspu.com.br

sexta-feira, janeiro 27, 2006

Praticamente frase do dia:
"Eu entendo que os orgulhosos donos de iPods queiram tirar o máximo partido dos mesmos. Mas também espero que a grande maioria não caia no erro de comprar algo estúpido como isto."
(claudiofranco.net)

Até onde vamos com esse nosso consumismo desenfreado? Como é que alguém usa um iPod de 20 Giga de memória!? Acho que dá pra colocar até a mãe lá dentro, de tanto espaço que esse troço tem. Vai entender...

quinta-feira, janeiro 26, 2006

Tamo aí na atividade...

Não poderia deixar de começar este post com o comentário-chavão de quem já está há um tempinho sem atualizar o blog: "já estou há algum tempo sem escrever nada e blá blá blá...". No more excuses e vamos logo ao que interessa.

Depois de três anos que estou morando aqui no mundo bizarro deu pra se ter a exata noção do quanto o Brasil é incrivelmente grande. É grande pra caralho!!! Parte da minha família e meus melhores amigos mora no Amapá e outra parte no Pará e todo ano tenho que visitá-las. Mas, pra fazer isso tenho que viajar uns 3 mil kilômetros e cruzar metade do país. O bacana disso tudo é que vale muito a pena e, por incrível que pareça, prefiro passar dois dias sentado na poltrona de um ônibus do que algumas horas em uma poltrona de avião. (É engraçado, mas toda vez que entro em um avião, tenho a nítida sensação de que ele vai cair e todo mundo vai virar salada de vísceras em algum brejo inalcançável)

Pra se cruzar o Brasil de buzão é preciso ter a mente muito aberta e estar preparado pra tudo. Nunca tive maiores percalços nas minhas viagens - tirando a vez que tivemos que ficar a manhã inteira plantados em um restaurante de beira de estrada no meio do nada por causa de um problema no motor. Sempre tem uma figura estranha que pode vir sentado do seu lado pra trocar uma idéia. Dessa vez não foi diferente: fui com um juiz de futebol e voltei com um mochileiro, escritor, ator e amante de quadrinhos. É interessante ver que em apenas dois dias você acaba sabendo de toda a vida da pessoa que está te acompanhando. O juiz de futebol é da marinha e faz faculdade de educação física e já apitou jogos importantes do campeonato paraense e sua mulher é dona de uma imobiliária; já o francês* (ele é filho de pai francês e, portanto, tem dupla nacionalidade) nasceu em Porto Alegre e estava vindo da Guiana Francesa e mora no Rio de Janeiro, onde vende livros que ele mesmo escreve e morou algum tempo em uma praia, morou em Paris e gosta muito de surfar. Desta vez, especificamente, não consegui ler quase nada durante a viagem. Achei que daria pra terminar um livro que estava lendo e começar a ler outro logo em seguida, mas acabei não fazendo nem uma coisa nem outra por causa dos meus ilustres companheiros de poltrona.

Sempre acabo fazendo uma comparação meio esdrúxula, mas que faz muito sentido, sempre que volto pra casa depois de uma viagem longa: pra conhecer o mundo é preciso conhecer o seu próprio país assim como pra se conhecer o universo é preciso conhecer o próprio planeta. Mas isso é assunto pra um outro post...

A gente sempre sai de casa pra poder voltar. É bom estar de volta.