quarta-feira, agosto 31, 2005

Aliança no Dedo

Espero um dia ficar velho. E seja com as mãos calejadas e com uma aliança no dedo.

Aliança no dedo é um “sim” e ao mesmo tempo um “não”.

Sim: eu te amo e vou te amar pro resto da minha vida incondicionalmente.
Não: eu nego todas as mulheres que amei um dia e todas que (muito possivelmente) vão me aparecer de hoje em diante.


Tem que ser pro resto da vida. Não tem jeito.

*foto: Sónia Henriques
http://www.photografos.com.br/SHenriques

terça-feira, agosto 30, 2005

Uma Questão de Possibilidades

“Possibilidade” - eis a minha palavra preferida. Não pela sonoridade (que também considero extremamente eufônica), mas pelo seu caráter metalingüístico. A palavra “possibilidade” é algo que emana várias possibilidades, conjecturas, incertezas. Algo daquilo que devem ter imaginado os navegantes ao saírem em suas incursões pelo desconhecido: será que chegaremos às Índias? Não sabemos. Existe a possibilidade! Existe também a possibilidade de sermos comidos por feras marinhas ou encantados por sereias ou mesmo devorados pelo mar em um dia de fúria de Poseidom... não sei, é uma possibilidade. Navegar é preciso, viver não é preciso.

É por causa dessas possibilidades que acabamos dividindo a vida em exatas metades: aquelas que deram certo e as que deram errado. E neste mar de possibilidades está uma outra palavra chamada "tentativa". Nunca poderemos comprovar nosso leque de possibilidades sem que haja uma tentativa. Aí está o contraponto existencial entre a frustração e o sucesso: a tentativa. Jamais saberemos se algo dará certo ou errado se não tentarmos. É uma lei básica da vida, não tem jeito, não tem outra possibilidade.

Possibilidade e tentativa. Uma palavra está intimamente ligada à outra por razões de existência mútua.
O que tem a ver Ratos de Porão com DNA mitocondrial? Tudo!

Antes que você ache que sou maluco (coisa que em parte realmente sou com muito orgulho), explicarei minha teoria agora mesmo. =)

As mitocôndrias são estruturas celulares existentes no corpo humano, em outros vertebrados e algumas plantas e que apresentam a sua própria carga genética, ou seja, tem seu próprio DNA e, por apresentarem esta característica, “vivem de acordo com suas regras peculiares” de acordo com o professor de Biologia molecular da Universidade de Tempere na Finlândia e fã de Ramones, Howard Jacobs.

Mas o que esse papo todo de mitocôndria tem a ver com Ratos de Porão? É simples: a sua rebeldia. Ratos de Porão é um dos ícones do punk brasileiro e as mitocôndrias são um ícone da biologia molecular e ambas são símbolo de rebeldia em comportamento e atitude.

Imagine que uma célula pode ser rebelde a ponto de ter, literalmente, o seu próprio DNA. Assim como o punk dos anos 70 onde bandas como Clash e Ramones contestam o comportamento existente na época para se vestir, cantar e viver de acordo com suas próprias regras. É rebeldia em seu estado puro se partirmos do princípio de que tanto o punk quanto as mitocôndrias contestam o pré-concebido, o estabelecido pelo sistema para formar o alternativo, o peculiar.

Punk e Ciência: “ambos têm elementos de caos criativo e de simplicidade sistemática” (Howard Jacobs).

É viagem pura e simples.

segunda-feira, agosto 29, 2005

Don’t forget to bring the towel!
Esses dias, lendo o “Guia do Mochileiro das Galáxias” li uma algo muito interessante – aliás, o livro inteiro é muito interessante -, que dizia o seguinte: “se um sujeito é capaz de rodar por toda galáxia, acampar, pedir carona, lutar contra os mais terríveis obstáculos, dar a volta por cima e ainda sim saber onde guarda sua toalha, esse cara claramente merece respeito”.

Depois dessa, não deu pra não lembrar da toalhinha do South Park... É por isso que eu digo: “Don’t forget to bring the towel!”

Oh Yeah!!!

sexta-feira, agosto 26, 2005

Hoje vou imitar descaradamente a coluna do Ricardo Guimarães na Trip e publicarei a carta (na verdade foi um e-mail) que escrevi para um grande amigo meu.


Caro Henrique,

Maquiavel dizia: "Nenhum indício melhor se pode ter a respeito de um homem do que saber o caráter dos seus companheiros de poder". Esta frase nunca me pareceu tão verdadeira. O PT está de pernas quebradas.

Ainda lembro com lágrimas nos olhos daquele discurso do cara que saudava o Lula durante a campanha: “Viva a Amazônia! Viva o Cristo Redentor! Viva o Brasil Viva Luiz Inácio Lula da Silva!!!”. Toda vez que eu lembro disso, fico emocionado. Não tem jeito.

Não acredito que as falcatruas tenham chegado nesse nível. Parei de discutir sobre o que tá acontecendo pra não perder o meu tempo. A minha mãe trocou uma idéia com ele.

Ainda confio no governo do PT, apesar de concordar que o social ficou meio de lado em relação à política econômica. Em anos não se falava em um elevado índice de exportações e, conseqüente, superávit da balança comercial, de dólar e Risco-Brasil caindo, de campanhas para o uso de software livre no Brasil... Ninguém vê isso!?

É meu amigo... é por essas e outras que começo a acreditar que o poder corrompe (como disse Maquiavel) e que homem honesto é aquele que nunca teve a oportunidade de roubar.

A esperança é a última que morre – a minha avó se chamava Esperança.

Tenho dito.

Um abraço.
César Cardoso

Em princípio parece meio idiotice dizer isso, mas eu vou dizer assim mesmo, na verdade é mais um pergunta: existe algo melhor do que fazer cocô? Imagine você andando na rua na maior agonia carregando o peso do mundo em suas costas até que chega em casa e, literalmente, afoga as mágoas sentado em seu trono. Existe coisa melhor? Não deve ter sido à toa que Freud descreveu a Fase Anal como uma importante etapa do desenvolvimento psico-sexual da criança.

A sensação de liberdade é plena depois de alguns minutos (ou horas) ali sozinho, apenas com os seus pensamentos deixando aquilo que o aflige simplesmente sair do seu corpo. Algumas pessoas fazem deste momento mais proveitoso, mais cultural, mais musical, dando uma lida ou fazendo o que chamo de "air drums", ou seja, tocando bateria no ar. A leitura de banheiro sempre leva a reflexões mais profundas uma vez que já estamos inseridos em um ambiente propício. Decisões podem ser tomadas em um momento de fecal reflexão. E você ainda pode acompanhar a sua música favorita enquanto reflete...

Outro dia, eis que estou em minha reflexão matinal antes de ir para o meu estressante trampo, o telefone toca. A distância que separa os meus pensamentos da maldita invenção de Grahan Bell só não é maior que as muralhas da China. Então imagino que para chegar até ela preciso, primeiramente, levantar do meu trono, me limpar, abrir a porta, cruzar o corredor que separa o banheiro do escritório e atender a chamada. E tudo isso antes que o infeliz do outro lado da linha ache que não tem ninguém em casa e simplesmente desista de suas pretensões. E foi exatamente o que me aconteceu: a ligação caiu na secretária e o desgraçado ficou calado e desligou. Se é para não falar nada, então por que liga? Freud deve ter alguma explicação plausível para isso, eu espero. É por isso que eu gosto de fazer o meu cocozinho em paz no silêncio da madrugada. Pelo menos assim é menos provável que alguém vá bater a sua porta ou te ligar para bater um papo cabeça às altas horas da noite. Isso é bem pouco provável.

Banheiro: um dos lugares mais legais do mundo. Pra que ir para o Tibet refletir pra tentar encontrar o sentido da vida, se temos o nosso próprio bem ali nos esperando a alguns passos de distância? E o que é melhor: bem quentinho, já que o Tibet deve ser frio pra caralho*.

*Pra caralho: usei a expressão pra dar mais ênfase na demonstração de algo que tende ao infinito.

Quando eu morrer, quero ter um enterro desses. Já imaginou?

É um lance meio suicida que as vezes fico pensando e me perguntando quem será que realmente vai ao meu enterro. Alguns amigos, parentes... Mas que diferença vai fazer, eu já estarei morto mesmo.

"Quero morrer numa batucada de bamba. Na cadência bonita de um samba..."